Tomas Bravo/Reuters
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O Insider.pro publica a tradução da primeira entrevista alguma vez feita a Joaquín Guzmán, conhecido como El Chapo, dada à revista Rolling Stone.

Joaquín Guzmán lidera o Cartel de Sinaloa que é considerado responsável por uma parte significativa do tráfico de drogas nos EUA. Em 2012, a revista Forbes incluiu El Chapo na lista dos multimilionários de todo o mundo e em 2013 ele ficou em 67º lugar no ranking das pessoas mais influentes do mundo. Segundo as estimativas, o cartel de Guzmán ganha mais de três mil milhões de dólares por ano. A 8 de janeiro de 2016, El Chapo foi detido depois de ter fugido em julho do ano passado da prisão de Almoloya de Juárez.

Ao responder às perguntas do ator Sean Penn, El Chapo disse que não se acha responsável pelo crescimento da dependência de drogas no mundo. "O tráfico de drogas é uma parte da cultura que vem de antepassados" no México e no mundo, segundo ele. El Chapo não usa drogas e não se considera uma pessoa violenta: "Tudo o que eu faço é para me proteger, nada mais. Será que eu causo problemas? Nunca."

— Como foi a sua infância?

— Lembro-me que quando tinha aí uns seis anos os meus pais eram muito pobres. Lembro como a minha mãe fazia pão para nos sustentar. Eu vendia coisas: vendia laranjas, refrigerantes, bombons. A minha mãe era muito trabalhadora, ela estava sempre a trabalhar. Cultivávamos milho, feijão. Eu cuidava do gado da minha avó e cortava madeira.

— E como é que se envolveu no negócio das drogas?

— Depois dos 15 anos, lá onde eu morava - o rancho La Tuna no município de Badiraguato - não havia e continua a não haver emprego. A única chance de ganhar dinheiro para comprar comida era cultivar papoila e cannabis, foi nessa idade que comecei a fazê-lo. É isso que lhe posso dizer.

— Como foi quando deixou esse lugar? Como é que as coisas aconteceram?

— Deixei o rancho aos 18 anos, fui para Culiacan, depois para Guadalajara, mas voltava sempre ao nosso rancho e até hoje eu volto às vezes. Porque a minha mãe está viva, graças a Deus, e está lá.

— Como é que a sua vida familiar mudou desde então?

— Muito bem - os meus filhos, irmãos, sobrinhos. Damo-nos todos bem. Muito bem.

— Agora que você está livre, como é que isto o afetou?

— Estou feliz por estar livre. Ter liberdade é muito bom, e a pressão é normal para mim, pois tomo cuidado nas cidades há alguns anos. Não, não sinto nada que afete a minha saúde ou mente. Sinto-me bem.

— É verdade o que dizem que as drogas destroem a humanidade e causam danos irreparáveis?

— Bem, é realidade que as drogas destroem. Infelizmente, como já disse, lá onde eu cresci, não havia outro modo de sobreviver e não há até hoje, não há maneiras de alguém trabalhar na economia convencional para se sustentar.

— Acha que é verdade que você é responsável pelo alto nível da dependência de drogas no mundo?

— Não, não é verdade, pois no dia em que eu morrer, o nível não diminuirá.

— O seu negócio cresceu enquanto você estava na prisão?

— O que eu posso dizer e pelo que eu saiba, tudo ficou na mesma. Nada diminuiu. Nada cresceu.

— O que pode dizer quanto à violência que vai sempre de mãos dados com esses negócios?

— Em parte isto acontece porque algumas pessoas cresceram com problemas, têm inveja e informações contra alguém. É isto que gera a violência.

— Você considera-se uma pessoa violenta?

— Não, senhor.

— Você é propenso à violência ou usa-a como último recurso?

— Olhe, tudo o que eu faço é para me proteger, nada mais. Será que começo os problemas? Nunca.

— O que você pensa sobre a situação no México, como você vê o México?

— O tráfico de drogas é uma parte da cultura que vem de antepassados. Não só no México. Em todo o mundo.

— Você considera o seu negócio, a sua organização, como cartel?

— Não, senhor, nada disso. Porque as pessoas que dedicam as suas vidas a este negócio não dependem de mim.

— Como mudou o negócio desde que você começou até hoje?

— Há uma grande diferença. Hoje há muitas drogas, enquanto antes tudo o que conheciamos era marijuana e papoila.

— Qual a diferença entre as pessoas de hoje e de antes?

— Há uma grande diferença porque hoje, dia após dia as aldeias crescem e nós crescemos, surgem mais maneiras de pensar.

— O que você pensa do negócio? Acha que vai desaparecer? Ou, pelo contrário, vai crescer?

— Não, não vai desaparecer porque com tempo nós crescemos e isto nunca vai acabar.

— Você acha que a atividade dos terroristas no Médio Oriente vai afetar de algum modo o futuro do tráfico de drogas?

— Não, senhor. Não afeta nada.

—Você viu os últimos dias de Escobar. Como você vê o final da sua própria vida tendo em conta o seu tipo de negócio?

— Eu sei que um dia vou morrer. Espero que seja de morte natural.

— O governo dos EUA considera que o governo mexicano não o quer prender. O que querem é matá-lo. O que é que você pensa?

— Não, eu acho que se me apanharem vão prender-me, claro.

— Levando em consideração o seu negócio, qual é a sua influência no México, na sua opinião? Há alguma influência notável?

— Não, nada disso.

— Porquê?

— Porque o tráfico de drogas não depende de uma pessoa. Depende de muitas pessoas. Como acha, quem é culpado - as pessoas que vendem drogas ou as que as tomam e criam procura? Como são interligados a produção, venda e consumo? Se não houvesse consumo, não haveria vendas. É verdade que o consumo cresce dia após dia. Por isso, as drogas são cada vez mais vendidas.

— Ouvimos dizer que abacate faz bem, lima faz bem, anona faz bem. Mas nunca vimos que alguém defendesse as drogas em público. Você fez alguma coisa para convencer as pessoas a usarem mais drogas?

— Não, não fiz nada disso. As drogas atraem a atenção. De certo modo, as pessoas querem saber como é. E depois a dependência cresce.

— Você tem sonhos? Você sonha?

— Qualquer coisa normal. Mas sonhar todos os dias? Não.

— Mas você não tem alguns sonhos, algumas esperanças na vida?

— Eu queria viver com a minha família os dias que Deus me deu.

— Se você pudesse mudar o mundo, mudaria alguma coisa?

— Por mim, tudo é bom do modo como é, sou feliz.

— Como é a sua relação com a sua mãe?

— A minha relação? Perfeita. Muito boa.

— De respeito?

— Sim, senhor, respeito, afeição e amor.

— Como você vê o futuro dos seus filhos?

— Será bom. Eles dão-se muito bem. A família é unida.

— E quanto à sua vida? Como a sua vida mudou desde que fugiu?

— Muita felicidade. Porque estou livre.

— Você já usou drogas?

— Há muitos anos atrás eu experimentei. Se sou viciado? Não.

— Há quanto tempo?

— Não uso drogas há 20 anos.

— Você está preocupado que a sua fuga possa pôr em risco a sua família?

— Sim, senhor.

— Na sua última fuga, procurou a liberdade a qualquer custo, a expensas de qualquer pessoa?

— Nunca quis fazer mal a ninguém. Apenas pedi Deus e tudo funcionou. Tudo correu bem. Estou aqui, graças a Deus.

— É de notar que em ambas as suas fugas não houve violência.

— Comigo a situação não chegou a este ponto. Em outros casos que tinham sido vistos tudo aconteceu de outra maneira. Mas desta vez não recorremos à violência.

— Tendo em conta o que foi escrito sobre si, o que se pode ver na TV e o que se fala de si no México, que mensagem gostaria de mandar aos residentes do México?

— Posso dizer que é normal as pessoas terem sentimentos contraditórios porque alguns me conhecem e outros não. Por isso digo que é normal. Porque quem não me conhece pode duvidar se é que sou uma pessoa boa ou não.

— Se eu pedir-lhe para descrever-se fingindo que não é Joaquín, mas alguém que o conhece muito bem, como é que você se descreveria?

— Bem, eu diria que do meu ponto de vista é uma pessoa que não procura problemas. Nenhuns.

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