Start-up dos EUA quer lançar nova bolsa de valores
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Um grupo de Silicon Valley tem um plano para criar uma totalmente nova bolsa de valores nos EUA

Uma start-up apoiada por nomes proeminentes de Silicon Valley está a mover-se no sentido da criação de uma nova bolsa de valores nos Estados Unidos – com regras adicionais para empresas e investidores e criada para premiar a detenção de ações no longo prazo e estratégias de negócios desenhadas para gerar resultados no longo prazo.

Eric Ries, empreendedor de São Francisco e autor do livro The Lean Startup, avançou que a sua equipa, que se encontra a trabalhar na Long-Term Stock Exchange (LTSE) ou bolsa de valores de longo prazo, pretende concorrer à US Securities and Exchange Commission (SEC) para autorização para operar. Recusou-se, no entanto, a especificar o timing. A empresa com fins lucrativos por detrás da LTSE alcançou fundos de investidores incluindo de Marc Andreessen, capitalista de risco, Tim O’Reilly, editor de tecnologia, e Aneesh Chopra, primeiro CTO nos EUA. Amy Butte, antiga CFO da New York Stock Exchange, é consultora do projeto e a equipa inclui veteranos da NYSE e do Departamento do Tesouro dos EUA.

Há muito que as start-ups de tecnologia dos EUA pretendem reformar o processo para as empresas listarem as suas ações e encontrar formas de minimizar a pressão (sobre as empresas listadas) por parte da negociação de alta frequência, do ativismo cínico e de quaisquer incentivos de distorção de resultados trimestrais. O Facebook, por exemplo, tentou reduzir o controlo de financeiros de investimento na sua Oferta Pública Inicial de 2012 – e os fundadores de Silicon Valley têm utilizado classes de ações separadas para manter o controlo sobre as suas empresas, uma vez listadas, argumentando ser fundamental para gerir um negócio no meio de prejudiciais pressões de curto prazo.

A LTSE é uma abordagem mais radical em alguns aspetos na medida em que propõe construir e operar uma inteiramente nova bolsa de valores. As negociações e empresas listadas terão de satisfazer todos os requisitos da SEC, o que permitirá que as suas ações sejam negociadas noutros mercados norte-americanos regulamentados. Além disso, as empresas listadas na LTSE terão de concordar com requisitos adicionais impostos pela SEC.

Ries avançou:

“Vamos utilizar os poderes da regulamentação da negociação para tentar criar incentivos para se pensar a longo prazo, tanto pela parte de gestores como de investidores. (...) Trata-se de uma via de dois sentidos, um negócio com dois lados, onde todos concordam com estas novas regras e com a ideia de que as empresas são geridas no longo prazo.”

Ries afirmou que a LTSE, a ser criada, terá algumas diferenças face a uma bolsa de valores tradicional. Salientam-se as principais:

  • Poder permanente de voto para acionistas, o que significa que o voto de um acionista é proporcionalmente ponderado de acordo com o período de tempo em que as ações foram detidas.
  • Ligação obrigatória (para empresas listadas) entre a remuneração dos executivos e o desempenho dos negócios no longo prazo.
  • Requisitos de divulgação adicionais que permitam às empresas saber quem são os acionistas de longo prazo – e que permitam aos investidores saber que investimentos a empresa está a realizar.

Ries acrescenta que a LTSE abordará as preocupações que levaram muitas empresas privadas nos EUA a evitar a listagem em bolsa. Com a LTSE “gastam mais energia a concentrar-se nos clientes e menos no tipo de distrações que levam a que se perca muito valor nos mercados de hoje. Dessa forma todos irão ganhar mais dinheiro.”

Um potencial obstáculo quanto ao início de uma nova bolsa de valores consiste no desafio de conseguir que as primeiras empresas se listem na mesma, dada a incerteza quanto a se existirá atividade adequada dos investidores para fornecer liquidez e preços justos. Para resolver isto, a LTSE pretende permitir que as empresas tenham listagem dupla, com as suas ações a serem negociadas em qualquer outro mercado regulado (nos EUA) como o NYSE ou Nasdaq. Ries recusou-se a avançar como a LTSE alcançará fundos mas presume-se que as empresas tenham de pagar para se listarem – o que poderá ser um obstáculo para o seu envolvimento.

Alguns irão certamente encarar a LTSE como o mais recente exemplo da arrogância de Silicon Valley, em linha com esforços de outras start-ups de tecnologia para “abalar” os setores da educação, saúde, transportes, entre outros. Ries avança entender essa visão mas afirma que a mesma não se aplica à LTSE. Afirma que a LTSE cultivou laços profundos com atores-chave na área da regulamentação e finanças em Nova Iorque e Washington – que também têm procurado reformar os mercados.

As notícias quanto à LTSE surgem enquanto um projeto do IEX Group aguarda aprovação da SEC – que deverá anunciar a sua decisão até 18 de junho. A proposta do IEX inclui um speed bump desenhado para impedir algumas táticas de trading de alta frequência e nivelar o campo de jogo para os investidores. O IEX focou-se no trading na bolsa para ajudar a corrigir o sistema, enquanto a LTSE visa utilizar os requisitos de listagem para proporcionar mudanças. Ries recusou-se a avançar como o seu grupo irá abordar a infraestrutura de trading, cuja criação poderá ser bastante cara.

Propôs a criação da LTSE no seu livro Lean Startup, de 2011, e afirmou que esperava que se tornasse uma ideia na qual alguém pegasse. No entanto, ninguém o fez e há cerca de três ou quatro anos atrás Ries começou a fazer trabalho inicial para perceber o que seria necessário. Trabalha a tempo inteiro como seu CEO agora, acompanhado por cerca de 20 colaboradores a full-time e a part-time e conselheiros.

“Estamos a falar de uma mudança tectónica na forma como os mercados funcionam, logo será certamente uma alteração pesada. (...) [No entanto], as condições de mercado tornaram-se mais maduras para tal e verifica-se o reconhecimento, praticamente todos os dias, de que se trata de um grande problema que precisa de ser resolvido e que, tal como se manifesta em Silicon Valley, os problemas estão a tornar-se piores.”

Fonte: Quartz

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