Em que consiste uma ICO?
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5 de Julho de 2017

Não há muito tempo a Bitcoin era algo... Embrionário. Porém, o seu amadurecimento deu-se de forma rápida. Desde que a Bitcoin foi anunciada em 2009 que o ecossistema de criptomoedas se tem vindo a expandir – e, entretanto, a moeda definiu novos recordes de preço, com o valor de uma só moeda a ultrapassar 2.000 dólares.

As criptomoedas têm vindo a expandir-se desde os dias em que a Bitcoin partilhava parte dos holofotes com a Litecoin e a Dogecoin – altura em que a Mt. Gox funcionava, as lojas de cupcakes tornavam-se destaques nos media por passarem a aceitar a moeda digital e a pizza era uma métrica do valor da Bitcoin.

Agora, há dezenas de criptomoedas a valer oito dígitos e o ritmo de nascimento de novas moedas está a acelerar.

Nesse ambiente particular de moedas recém-lançadas existe um novo tipo de transação que deve compreender – o Initial Coin Offering (Oferta Inicial de Moeda) ou ICO na sigla original. Uma ICO é semelhante a uma IPO (Oferta Pública Inicial na sigla original). Embora surja como um conceito confuso, tem vindo a ganhar destaque como forma privilegiada de lançar uma nova criptomoeda.

Porém, como é típico com novos criptoprodutos, há questões legais e jogadores pouco éticos à mistura. Vamos então explorar o que uma ICO representa no atual mercado de criptomoedas.

Princípios básicos de uma ICO

Uma ICO é uma ferramenta de angariação de fundos – consiste na negociação de criptomoedas futuras em troca de criptomoedas de valor líquido imediato. Imagine que oferece Bitcoin ou Ethereum e obtém uma moeda nova ou a infame CrunchCoin.

O Financial Times considera as ICO “emissões não regulamentadas de criptomoedas em que os investidores podem reunir fundos em Bitcoin ou em outras [criptomoedas].” – Uma definição esclarecedora, especialmente se sublinhar as palavras “não regulamentadas”. Mas já lá voltamos.

Continuando a citar publicações financeiras: o The Economist também deu uma olhadela no novo mecanismo, descrevendo o que se compra numa ICO da seguinte forma:

“As ‘moedas’ de uma ICO são essencialmente cupões digitais, tokens emitidos num livro-razão indelével, ou blockchain, como o que sustenta a Bitcoin, uma criptomoeda. Isso significa que podem ser negociadas facilmente – embora, ao contrário das ações, não confiram direitos de propriedade. (...) Os investidores esperam que projetos bem-sucedidos levem a que o valor dos tokens aumente.”

O aumento do valor referenciado é crítico para compreender a atração das ICO. Trata-se de investimentos realizados na esperança de rápidos e significativos retornos.

Curiosamente, nem todas as ICO são referentes a criptomoedas que irão manter a sua própria blockchain. De acordo com o grupo de pesquisa Smith + Crown, focado em criptomoedas, algumas ICO estão a “lançar ‘meta-tokens’ construídos sobre Ethereum, Bitcoin, NXT ou outras.”

Assim, as ICO podem ser moedas sobre moedas, financiadas pela transferência de outras criptomoedas para contas em busca pelo que se segue. Poderá soar uma loucura mas vivem-se tempos quentes no mundo das criptomoedas.

E esse calor está a manter as ICO a borbulhar. O mesmo artigo do The Economist, publicado em abril de 2017, nota: “perto de 250 milhões de dólares já foram investidos em ICO, dos quais 107 milhões este ano.”

É muito dinheiro – não sendo difícil compreender por que razão publicações de finanças mais tradicionais estão a prestar atenção. Seguir o dinheiro é “a sua cena”.

Em suma: as ICO são a nova catapulta de financiamento através da qual novas criptomoedas são lançadas ao mundo.

Ladrões, mentiras e leis

Tal como acontece com qualquer boom, há maus atores na terra das ICO. Considerando a Bitcoin e a profunda tradição de persistente mau comportamento no mundo das criptomoedas, não é uma surpresa que as ICO estejam a atrair indivíduos com intenções duvidosas.

Uma busca rápida na internet apresenta manchetes como “A todos os que se envolveram na ICO da Matchpool: parece que foi uma fraude...” ou “Fraude com moeda digital está a abusar do nome da família Rothschild.” – Exemplos deste ano.

No mundo das ICO, a fraude nunca é difícil de encontrar. Acrescente a incompetência de que qualquer novo empreendimento é alvo e as ICO surgem um pouco como o Velho Oeste.

Leis

Mas então e regulamentação? – Pergunta você. Certamente que existe para proteger os consumidores – Insiste.

Regressando a Smith + Crown: contornar as regras usuais quanto à angariação de fundos é quase normal no domínio das ICO.

A maioria das ICO são “comercializadas” como uma “pré-venda” – concedendo acesso antecipado aos primeiros apoiantes. Para tentar evitar os requisitos legais que surgem com qualquer tipo de venda de títulos, muitas ICO hoje em dia utilizam termos como “crowdsale” ou “doação” em vez de ICO.

Assim, a regulamentação ainda fica de fora.

Há ainda um argumento a acrescentar: a escassez de supervisão regulamentar é na realidade boa na medida em que permite ao mercado de ICO iterar e inovar rapidamente. É um argumento razoável e provavelmente tecnicamente correto mas não mitiga a possibilidade de os investidores serem atacados.

Se o mercado quiser continuar a crescer irá precisar de fazer mais para atrair maiores quantias de capital.

Bolha

Existe a hipótese das ICO desacelerarem? Claro, mas as forças por detrás das mesmas são um pouco mais poderosas do que pode ter imaginado.

A CryptoHustle levanta a questão num artigo recente: “A ICOmania deve-se provavelmente aos primeiros adotantes da Ethereum – a fazerem sérios retornos depois da última tendência altista.” A subida da Ethereum foi surpreendente, de facto. Se estiver a alimentar a loucura das ICO podemos estar a encarar algo para o longo prazo.

Independentemente disso, tal não significa que as criptomoedas sejam como devem ser. Que as ICO poderão eventualmente adiantar-se a si próprias e chegar a uma “bolha”, como tantos outros nichos de tecnologia, é previsto pelo menos desde outubro passado. Não é certo quanto tempo durarão os bons tempos. Mas a correção irá chegar, como sempre – e quando tal acontecer, veremos que criptomoedas terão uma oportunidade real.

Conclusão

O mercado de criptomoedas está uma vez mais quente. E enquanto continuar a estabelecer novos recordes, uma série de altcoins (criptomoedas alternativas) irá exigir a sua fatia do mercado.

Deve comprar numa ICO? Apenas se tiver um grande apetite por risco – zero medo de perder o seu capital – e se estiver disposto a aguardar por uma hipótese que poderá dar em nada.

Uma vez mais, o crowdfunding tem riscos semelhantes e parece perfeitamente saudável. É uma decisão sua.

Fonte: TechCrunch

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