A Ethereum é muito parecida às restantes criptomoedas que existem – porém, conta com algumas características especiais
A criptomoeda Ethereum (ETH ou ether) foi desenvolvida em 2014-15 como alternativa à Bitcoin. Foi desempenhado um importante papel no seu desenvolvimento pelo canadiano de origem ucraniana Vitalik Buterin – que é considerado, com algumas reservas, o fundador desta criptomoeda (ETH/USD).
A Ethereum é muito parecida às restantes criptomoedas que existem. Também tem uma blockchain e proteção criptográfica e também pode ser comprada ou vendida em plataformas de câmbio ou trocada por outras criptomoedas. Porém, conta com algumas características especiais, que se enumeram de seguida.
"Combustível" de contratos inteligentes
Enquanto a Bitcoin foi desenvolvida como ferramenta para transferência de valor monetário, o objetivo para a Ethereum era que esta se convertesse no “combustível” de contratos inteligentes. Como mostra a prática, pode ser usada como ferramenta de acumulação e de transmissão de valor (com transações muito mais rápidas do que as oferecidas pela blockchain de Bitcoin). No entanto, inicialmente a ETH não se destinava apenas a isso mas também a tornar possível o funcionamento de contratos inteligentes (os iniciadores de contratos gastam uma certa quantia de ether como “combustível”, o que pode ser comparado até certo ponto às comissões de um banco).
Nenhum dos “combustíveis” deve ser muito caro e o da Ethereum não é exceção. Com o preço da criptomoeda a subir, o funcionamento de contratos inteligentes com recurso à mesma torna-se mais difícil – devido a crescentes despesas com execução de código. É por isso que o uso de ETH como ativo artificial e o exagero de preços que ocorrem em câmbios de criptomoedas são prejudicais às fundações básicas da Ethereum e diminuem a sua fiabilidade como ativo de investimento de longo prazo.
DAO e hard fork
A ETH tem servido como base à plataforma DAO, destinada à gestão de investimento descentralizado. No entanto, a atitude descuidada da equipa de programadores da DAO e de Vitalik em relação à segurança e fiabilidade do código resultou em “furto legal” de 3,64 milhões de ETH conduzido por hacker desconhecido – que encontrou vulnerabilidade no código da DAO e a 17 de junho de 2016 a explorou, e à maior parte dos ativos financeiros do projeto, sem quebrar as suas regras (o hacker não foi capaz de vender de imediato a Ethereum furtada da plataforma pois o sistema de segurança foi acionado e os ativos ficaram congeladas por um mês). Vitalik Buterin decidiu devolver os fundos roubados mas para tal foi necessário ativar hard fork para cancelar a transação contestada.
A comunidade julgou essa ação pois contrastou, claramente, com toda a filosofia por detrás das criptomoedas – o que causou o afastamento de parte dos mineiros para a rede de Ethereum Classic (ETC). No entanto, tomando em consideração o preço de Ethereum, a sua taxa de hash e capitalização, a ETH acabou por ser bem-sucedida – surgindo com maior relevância que a ETC.
Natureza inflacionária
Um recurso característico da Bitcoin (e da maioria das criptomoedas em geral) é a sua natureza deflacionária: durante todo o tempo de funcionamento do sistema apenas 21 milhões de bitcoins podem ser minadas. Porém, a quantia de moedas minadas em Ethereum não é limitada logo a ETH é uma moeda inflacionária. Tal poderá ter influência negativa no seu funcionamento no longo prazo mas o valor da Ethereum sente a influência de tantos fatores, começando com a crescente procura, que não é claro quando a natureza inflacionária da ETH se irá mostrar forte o suficiente para “mover” a taxa para baixo – poderá levar anos.
Transição para Proof of Stake
Durante toda a sua história, a ETH foi minada de acordo com o princípio POW (Proof of Work) como a maioria das criptomoedas, incluindo bitcoins. A principal característica deste método de mineração é a necessidade de capacidade de processamento para a mineração de novas moedas. Na maioria das altcoins, trata-se de placas de vídeo (GPU) especializadas para mineração (dispositivos ASIC para altcoins são raramente desenvolvidos). No entanto, a equipa de programadores de ETH planeia uma transição gradual para o princípio de mineração POS (Proof of Stake) de acordo com o qual apenas proprietários de nós completos, com não menos que 1.000 ETH, podem obter novas moedas (os detentores de menores quantidades de ethereums podem juntar-se a grupos de mineração).
A mineração de ethereums através de GPU irá permanecer o método predominante (até o híbrido POW + POS entrar em funcionamento). A primeira etapa de transição está planeada para setembro de 2017. Estima-se que depois da transição para POS o preço do “combustível” se torne significativamente menor.
Descentralização relativa
A descentralização máxima do sistema foi uma prioridade aquando da criação da Bitcoin. Porém, não há descentralização total na Ethereum. Embora decisões globais – como por exemplo o recente hard fork – devam ser tomadas com base na taxa de hash dos mineiros, a capacidade de decisão da equipa de programadores é bastante evidente. Muitos mineiros que não apoiam Buterin e a sua política mudaram para a mais descentralizada Ethereum Classic.
Ao mesmo tempo, outro aspeto além da menor descentralização e maior capacidade de gestão é o facto de muitos grandes investidores se terem movido de BTC para ETH, que parece ser mais previsível e controlada pelas equipas de desenvolvimento. Tal teve um impacto positivo no preço da Ethereum (subiu 20 vezes no último ano) e poderá vir a ter ainda mais impacto.